quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Blade Runner adormecida


2/2
Embarcou uma replicante, na nave de gente normal e cansada, com suas roupas normais, caras normais, celulares normais. Olhares perdidos, olhares fixos em suas bíblias e evangelhos. Ela, em sua idade humana, teria uns 15. Lembrei-me de Daryl Hannah, aquela androide, replicante, de Blade Runner. Olhos pintados com delineador exageradamente preto, cabelos lisos com tintura indispliscente, nas pontas. A viagem segue. Confesso que estou cansada de virar personagem de mim mesma. Recomecei minhas leituras budistas para ver se controlo minha mente. Dor de dente.
Os pés, pequenos, harmonizavam com o resto do seu biotipo. Lembrei-me de mim. Dos meus sonhos, do meu rabo-de-cavalo, preso na nuca, sempre adestrado pela minha mãe; eu sorria mais que a menina da nave. Será que a mãe dela faz pimentão recheado? A minha fazia e, na época, era tudo orgânico e barato. Talvez ela nem tenha um passado.
Mais uma terça-feira me leva de bonde; bem que poderia ser naquelas naves que o Harrisson Ford pilotava, no filme, tendo ao seu lado, a androide e quase humana Sean Young, linda, com aquele topetão.

" Uma experiência e tanto viver com medo, não? Ser escravo é assim." (...) "Eu vi coisas que vocês nunca acreditariam. Naves de ataques em chamas perto da borda de Orion. Vi a luz do farol cintilar no escuro, na Comporta Tannhauser. Todos esses momentos ser perderão no tempo como lágrimas de chuva (...) É hora de morrer".

(Na cena final do filme Blade Runner, Roy Batty, o último replicante os Nexus 6, trava um diálogo, que me arrepiou a espinha humana, com o caçador de androides, interpretado por Harrison Ford)

Sons do trem: Vangelis (que é a trilha do filme)
Pavana para uma enfante defunta, de Maurice Ravel (que combina comigo)
Recordando, de João Pernambuco (que combina com a arquitetura da estação da Luz, seus tijolinhos e detalhes em branco, nas portas arqueadas)
Opus 59 de Chopin (que combina com tudo)

10:00


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