terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Infinito trem flexionado em gente ou asas do desejo


25.1

Já estou me achando. Me achando uma carga. Enquanto esperava o trem, na Luz, ouvi um barulho familiar e já fui me posicionando... Era de carga.
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Hoje, dormi.
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São Paulo é de aquário como eu.
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Esses garis dos trilhos vivem seus dias de homem-aranha e Batman arriscando suas vidas na dura aventura nada humana de catar toda sorte de entulho. Humanos. Restos.
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Preciso falar de sexta passada.
Eu, uma soldada rasa, não desci em Comandante Sampaio. Com a chuvarada de mais de trinta dias, que esbraveja contra nós (bem-feito pra nós que tanto cuspimos na natureza, e uns contra os outros), segui pra Itapevi; quase vomitando da Luz pra lá.
Odisseu não resistiria.
De sexta não tinha nada. Olhares perdidos e sem motivos pra comemoração. Queria ser o Nicolas Cage, naquele filme, Cidade dos Anjos; na verdade, uma releitura de Asas do Desejo, de Win Wenders. Queria ser ele, e sussurar, para as pesssoas, coisas boas, sem que me vissem.
Mas anjos não têm ânsia. Tem? Estava enjoada do cheiro de borracha queimada do trem e dos suores já secos de um dia de batalha.
Fui de taxi pra Cotia e, de lá, rebocada por um Jippe de um amigo.
Como hoje é segunda, não me lembro do nome da música que ouvi na sexta, mas, certamente, era um blues combinando com o tom também azul dos bancos tristes e descascados pelo vandalismo e pelo tempo. Talvez um soul vindo de dentro daquela gente corroída e desgastada pela rotina.

Som do trem: Quinteto de sopros de Curitiba, tocando Serguey Procofiev

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